quarta-feira, 23 de abril de 2008

O jeitinho: ruim, mas necessário?

O jeitinho brasileiro, sendo um conceito unicamente brasileiro, é difícil compreender fora do país. Quando eu primeiro aprendi a expressão “dar um jeito” na minha aula de português, meu professor, um americano, a descreveu parecida com a expressão americana “Give it the old college try” (que quer dizer, mais ou menos, “vamos tentar sinceramente, mas não preocupar-nos com o êxito” ou pelo menos foi assim que eu compreendi. Como aprenderia mais tarde, fui errado. O jeito não é questão de tentar, mas de conseguir. As pessoas com as relações vantajosas as usam para evitarem a burocracia e as complicações do dia-a-dia e, mais importante, para se distinguirem do resto do povo, esperando na fila.

Minha amiga, uma estudante na Universidade Católica Salvador, descreveu o jeitinho por trás das manifestações dele na vida cotidiana dos próprios brasileiros. Inclui tudo que as pessoas fazem para burlar a lei ou “a instituição”, até usar um grampo de papel para informalmente consertar um computador, para ela. É ruim, minha amiga disse para mim, mas às vezes é necessário. A parte mais interessante da entrevista, para mim, era o fato de que ela reconheceu também as complicações da sociedade que faz necessário o jeitinho. Ela afirma que a burocracia, que realmente existe em toda parte no Brasil, é um obstáculo para ser vencido, e que o jeitinho, mesmo sendo às vezes injusto, é a resposta da cultura própria. Olhando a elite, acima da hierarquia brasileira, as pessoas do povo percebem vários trajetos, por trás das ligações pessoais, que as levantam e fazem a vida mais conveniente. Visto desse modo, o jeito é menos uma espécie de corrupção é mais uma ferramenta para a liberação das vítimas da distribuição desigual dos direitos, educação, dinheiro e respeito no Brasil. Mas ela insistia na injustiça dele, até que o funcionário da sala dos computadores pegou seu grampo de papel para tirar um disco travado no computador dela.

2 comentários:

Gabriela Cravoecanela disse...

É justamente isso, eu acho que a gente é contra o jeitinho até receber alguma coisa que não receberiamos sem um ajuda. Sua amiga obviamente entendeu os varios aspetos do jeitinho brasileiro, das coisas coitidianas até coisa muito mais complicado, mas, como ela falou, as vezes é ruim mas necessário. As vezes, nem é ruim. Um homem me perguntou hoje passar na fila no supermercado, porque ele só tinha uma coisa que ia comprar. Não tinha ninguem atrás de mim, e eu não estava preocupada com tempo, então, para quem seria ruim? As vezes eu acho que jeitinho forma mais parte da convivência humano do que corrupção. Depende só do jeitinho...

Caitlin disse...

Então, o problema não é o jeitinho, é a burocracia brasileira, e devemos enfocar mais nas possíveis reformas que podem mudar a burocracia... mas, se as pessoas que têm esse poder de mudar a estrutura do governo beneficiam dessa estrutura burocrática, como é que tudo vai mudar? Meu Deus, é um ciclo vicioso!