quarta-feira, 23 de abril de 2008

TUTOIE-MOI!

Eu gostaria de investigar as conseqüências sociais de falar uma língua que tenha a distinção de T-V. A distinção T-V quer dizer "Tu-Vos," a qual vem do latín, a versão latina de "Você-O Senhor." Em outras palavras, uma língua que distingue entre tratamento formal e informal da segunda pessoa. A distinção T-V descreve a situação na qual a língua tem dois pronomes da segunda pessoa que distinguem vários níveis de etiqueta, educação, distância social, familiaridade ou insulto. Por exemplo, um exemplo de uma língua que não tem a distinção T-V é o inglês moderno. Por isso pode se tornar difícil para um estudante que apenas fala inglês aprender os pontos complexos desse sistema. Mesmo assim, o inglês tem outras maneiras de distinguir formalidade (tratar uma pessoa de "Mrs." ou "Sir", por exemplo). Antigamente, o inglês se diferenciou de "você" e "a senhora," utilizando os pronomes "thou" e "you." Contrariamente à crença popular, a forma informal era "thou" e a forma formal era "you." "You" era usado na mesma maneira do que o francês (tu-vous) ou o latín (tu-vos): funcionou como ambas a forma singular formal e a forma plural da segunda pessoa.
Um fenômeno curioso é quando uma pessoa cresceu numa cultura que tem distinção T-V, e começa a perceber uma diferença no jeito em que a sociedade a vê. É claro que não há uma idade específica quando essa mudança ocorre, mas eu já ouvi muitas pessoas comentar que acontece por volta dos 30 anos. Uma pessoa pode notar que as pessoas a tratam de "a senhora" com mais freqüência do que antes.
Para complicar a situação, a distinção T-V não é apenas usada para demonstrar respeito, formalidade, ou distância, também pode ser usada para dar um tom "frio" a uma disputa entre pessoas íntimas (que normalmente não usariam a forma formal). Eu ouvi dizer que essa técnica lingüística usa-se muito no Japão. Para dar um exemplo equivalente do inglês: quando um pai grita o nome inteiro dum filho (em vez do apelido) quando o filho o aborreceu ("Elizabeth Marie Walters, come here!" Essa situação não é estranha a vocês?)
Para piorar o assunto ainda mais, outro uso seria em alguns países hispanofalantes na América Latina, quando os pais costumam tratar seus filhos de "usted" quando querem mostrar carinho ou afeto.
E para lidar com sociolingüísticas, qual conclusão podemos fazer em relação à etiqueta social? Distinguir entre tratamento formal e informal representa uma hierarquia social que seja arcaica e conservadora? E por nos manter fiel a esse sistema de normas sociais, nós estamos reforçando essa luta de classe e poder? Ou talvez a distinção T-V seja uma maneira de diversificar e enriquecer uma língua-- nos permitindo expressar mais precisamente e dum jeito complexo?

6 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Muito interessante Rhea, eu gostei. Boa noite amiguinha. -Esme

Seu Drake disse...

É uma pergunta muito interessante que você levantou, para estrangeiros olhando as conseqüencias culturias de fora e também para os próprios brasileiros, tenho certeza. Seu comentário sobre o uso do nome completo me fez lembrar outro dado, que eu acho interessante também. Ouvi falar que inglês é a única língua em que as pessoas falam mais devagar quando fiquem bravas. Sendo esperta em línguas, você concorda?

Rhea disse...
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Rhea disse...

Seu Drake,
Eu nunca ouvi mencionar esse fenômeno, mas seria bem interessante pesquisar a velocidade da fala dessas pessoas bravas, neh? Agora que eu penso nesse fato, acho que eu ouvi alguns alemães e rusos falando devagar quando ficaram zangados. Não posso ter certeza, mas acho que uma característica bem marcada nas línguas románticas é falar rapidamente quando estão bravos.

MariaLuisa disse...
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