terça-feira, 3 de junho de 2008

O MEU PAI NA BAHIA


O meu pai é ótimo para bater papo. Bater papo: sim. Relacionar-se com outros num nível profundo e espiritual: não tanto. Se você quiser bater papo como ele sobre qual universidade vai freqüentar, o fato de que o tempo anda frio para burro recentemente, ou para onde vai de férias: beleza. Ele também é anatomicamente incapaz de sentir vergonha; eu aposto que houve uma mutação genética quando nasceu. Todas essas características parecem se manifestar quando nós viajamos juntos num país onde não se fale inglês e estamos perdidos. Um exemplo de primeira seria quando meu pai e eu estávamos visitando uma universidade em Guadalajara, no México e precisávamos de indicações. Embora eu fale espanhol e ele não, ele sentiu a necessidade de gritar em “espanhglês” lastimável para um local, usando gestos exagerados e pulando entusiasmadamente, que estávamos perdidos e, por gentileza, o senhor poderia nos ajudar? Enquanto isso, eu estava escondendo o rosto vermelho nas mãos dos espectadores, fingindo estar extremamente interessada no fiapo do meu cardigã. Tal circunstância tende a ocorrer uma quantidade inumerável de vezes por ano. Agora, recentemente me ocorreu a idéia do meu pai aqui na Bahia, imaginando como ele seria recebido. De repente eu me lembrei de uma experiência quando eu tinha acabado de chegar na Bahia. Uma amiga e eu perambulamos por uma extensão de praias, incapazes de encontrar a barraca especial que procurávamos. Uma mulher roliça e bem bronzeada, com a pele lubrificada e os olhos agradáveis, deu uma olhada para nós, consciente de que não éramos soteropolitanas. Ela perguntou se nós precisávamos de ajuda, e ao ouvir aonde precisávamos ir, ela se levantou, nos guiou à barraca adequada, batendo papo o tempo todo sobre a preguiça do marido dela, até alcançar a nossa barraca. Aí, ela comprou a bebida preferida dela, para todas nós. Agora, essa história não foi a primeira vez, nem a última que alguém daqui nos mostrou tanta hospitalidade. Ações parecidas de hospitalidade, muitas vezes simples e sem fingimento, ocorreram durante toda a minha estadia na Bahia. Da minha experiência, há poucos lugares no mundo onde a hospitalidade seja tão comum e até trivial, esperada. Aí um pensamento bizarro entrou na minha mente, Será que meu pai, potencialmente vestido de roupas combinadas mal, equipado com os acessórios “necessários” de um turista gringo (chapéu de palha e meias com sandálias) seria . . . verdadeiramente . . . recebido com cordialidade e respeito aqui??

2 comentários:

Seu Drake disse...

Bater um papo é o modo da vida aqui, como você já sabe com certeza. Não tenho nenhuma dúvida que seu pai seria bem-vindo aqui, mesmo vestido como o homem na sua linda foto. Das minhas experiências, os gestos exagerados, cantos desafinados e gritos inesperados são bem comuns e até encantadores para os próprios brasileiros, tanto na rua quanto numa biblioteca ou laboratório de computadores, onde eu estou sentado agora, escrevendo este comentário...

Caitlin disse...

Eu também já conheci muitas pessoas agradáveis aqui, lembra daquela história do fim de semana quando eu fui seqüestrada pela família do meu namorado? Nunca na minha eu pensei em ficar quase dois dias nessa casa do tio do cunhado dele, dançando à musica de Shania Twain, comendo doces demais com pessoas que eu acabei de conhecer. Mas foi massa, e nunca aconteceria nos Estados Unidos, né?