Nasci no dia 19 de janeiro, 1987 (como temos o costume de calcular os anos a partir do suposto nascimento do Jesus Cristo) na cidade de Los Angeles nos Estados Unidos. Embora este fato faça de mim americano, insisto em minha identidade ser percebida por trás das coisas que fiz depois de ser parido. Não acredito que minha nacionalidade, o estereótipo em que fui nascido, fez a maior parte do quem sou do que minhas próprias escolhas e ações. Uma identidade não é uma palavra só, nem milhões. É mais que um nome, mais que um apelido, mais que palavras. É uma abstração onde se colocam as lembranças e os sonhos e os confundem. É um todo consagrado, expressado por trás de uma língua falada de expressões e gíria, mal entendida, de equívocos e suposições. É um corpo ressonante com vontade de mexer com tudo: um universo de luxúria, medo, sexo, piedade, autopreservação, alegria, conciliação...
Então, quem sou eu? Não tem bastante espaço neste blog, nem dimensões suficientes para responder. Sou a música que componho, o futebol que jogo, o tom com que eu falo. Sou filho, irmão e estudante- todos com o mesmo nome, Drake. Os brasileiros que eu conheci escrevem o meu nome “Dreak”, e eu sou isso também. Estou sorrindo, para sempre, na sala de concertos na minha faculdade, depois de a orquestra ter tocado a minha música. Estou chorando, sentado na grama do campo do futebol depois de termos perdido um grande jogo. Estou sempre aprendendo o que me ensinaram meus pais, sempre com gritos e sussurros e silêncios no fundo da minha mente. Não posso lembrar nem esquecer, apenas sou. E quando for para a aula de português, serei “aquele gringo”, com bermudas e a camiseta do Arsenal. Apesar de ser tanto, a identidade, inevitavelmente, sofre a humilhação de tornar-se em palavras, em fofoca, enfim, uma impressão que cada dia vem a ser mais abstrata até que seja mais uma criação de quem percebe do que a própria pessoa. E mal reconhecemos que a identidade, mesmo que seja afirmativa, também é ligada à subjetividade e ao conhecimento do mundo externo. O que sou, incluindo tudo que conheço- tudo que aceitei e tudo que rejeitei- se transforma em minha expectativa para o resto da minha vida: sempre mudando, sempre vazia, sempre cheia.
quinta-feira, 27 de março de 2008
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6 comentários:
É Drake, categorizamos as coisas pelo que trazemos na gente, claro que vão te categorizar, mas , e daí? Como eu posso ver, vc já percebeu isso... Quer dizer, eu acho que já percebeu.
E parece que vc também já resolveu isso em vc também.
Até entendo que a imagem do comportamento político do seu país, que é passado para nós, cria um mal estar que fica simbolizado em qualquer coisa que lembre sua cultura nas pessoas, mas vc sabe e eu também sei que não somos a coletividade, mas somos também, um monte de particularidades contraditórias e isso é formidável. Existem sim pessoas que vão olhar você como uma "pessoa", além de tudo o mais e vão gostar muito de te conhecer.
XXX:)
kalini
Prezado seu Drake!
Gostei muito de seu post. Acho que você acertou nessa construção tão pessoal, que a gente chama da ´identidade,´ pensando que é possível saber algo de alguém pela maneira em que agem, pensam, ou nascem. Tem razão, os seres humanos são muito mais do que a mera aparência ou palavras que apresentam ou usam para o mundo da fora. A identidade não se pode limitar ou colocar dentro de parâmetros, e qualquer esforço a fazê-lo por tentando descrever quem somos já está limitando o sem-limite. Então, ´cheers´ pelo seu post e pela sua representação tão poética de uma coisa/construção que só pode ser delineada em termos poéticos.
Parabéns, Drake! Você conseguiu expressar muito bem aquilo que muita gente, inclusive brasileiros, tem dificuldade em definir: a nossa identidade. Gostei muito da sua colocação: "Sou a música que componho, o futebol que jogo, o tom com que eu falo." Muito poeticamente você conseguiu definir a nossa identidade. Parabéns novamente! E, continue a expressar suas idéias em português e logo você será 'uma fera' em nosso idioma.
Drake, acho que qualquer comentário sobre seu blog é supérfluo--seu texto já é ótimo. Eu adorei a abstração que você emprega para mostrar a complexidade da identidade, sobretudo relacionado com o espaço físico. Uma coisa que você inspirou...Quando você fala da sua identidade, fala de futebol, musica, etc. Eu gostaria de fazer com que essa idéia fique cada vez mais abstrata. Eu diria que essa musica, esse jogo de futebol não é só a identidade sua, mas a acumulação de um numero de identidades infinitas. O seja, você não nasceu jogando futebol mas você levou e modificou muitas técnicas do jogo que vieram antes de você. Entretanto, sua sinfonia está referindo à identidade de milhões de pessoas que compos música no passado, o que você usa para criar uma identidade única e sua própria. Acho que é assim que a gente vai modificando e acessando uma identidade abstrata para criar a própria identidade da gente e também desenvolver essa identidade abstrata para generações no futuro.
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