segunda-feira, 31 de março de 2008

"Caloura" ou só "loura"?


É realmente uma coisa esquisita para mim ser chamada pela cor do meu cabelo, e até mais esquisito ser chamada assim por pessoas desconhecidas. Lá, nos Estados Unidos, não é uma grande coisa ser loiro, o que quer dizer, eu suponho, que lá tenha muitas pessoas loiras, em contraste com aqui, na Bahia.
Eu tinha me acostumado mais ou menos a essa diferença, embora eu ainda sentisse que não deva ser minha característica definitiva, quando aconteceu algo que provou sue eu ainda não gosto de ser chamada de “loira” e que eu ainda não entendo tudo que as pessoas falam.
Eu estava na Universidade com duas amigas, também estrangeiras, e a gente ia em busca de um lugar para sentar e bater papo. Ao atravessar a rua perto do prédio de Biologia, a gente enfrentou uma multidão de estudantes, todos homens, indo na direção oposta. Uma multidão de homens no Brasil é intimidação o bastante, mas eles não se satisfizeram só em olhar. Um indivíduo na frente gritou algo sobre “calouras”, só que eu não entendi e ouvi “louras”. Isso para mim foi demais; sermos chamadas de “louras” na frente de um monte de colegas nossos como se fossemos animais me pareceu uma falta de educação e, como também me pareceu que as mulheres nesse país sofrem caladas mais do que devam sofrer, eu xinguei ao grupo, ou pelo menos o menino em frente. Uma das minhas amigas também fez um gesto bem rude e a gente seguiu nosso caminho.
Não foi até que algum tempo depois que elas me explicaram o que aquele rapaz gritou e eu confesso que fiquei um pouco envergonhada. Mas mesmo que o incidente não tivesse nada a ver com a cor de nossos cabelos, eu sinto como eu fizesse um serviço para toda a população feminina brasileira. E também para mim. A próxima vez eu vou estar preparada.

6 comentários:

Caitlin disse...

Isso é algo difícil para mim também, essa questão de quando vc deve responder aos gritos maleducados dos meninos (e dos velhos) aqui. Se vc responde, ele vai continuar te molestando; se vc não responde, ele não vai fechar a bouca, mas vc sente como se ele ganhasse. E ás vezes, ele só falou uma observação sem um forte sentido sexual... mas tudo isso não é nada específica ao Brasil. Infelizmente, acontece muito nos Estados Unidos também, com todos tipos de homens.

Kyle disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kyle disse...

"Acho que Kyle não entende muito bem como é ser uma mulher aqui em Salvador," minhas amigos me ja falaram. E elas têm razão, eu nunca vou saber completamente como é ser uma mulher dentro desse pais (o qualquer outro, eu imagino). Mas as vezes eu olho ao redor de mim e eu penso: "o que é o problema?" Minha professor de dança afro-brasileira é mais forte que qualquer outra pessoa que eu conheci aqui. Minha mãe brasileira é tão inteligente que ninguem poderia aproveitar-se dela. Mas os homens ainda falam coisas que degradam essas mulheres porque as mulheres aqui não têm uma posição social na qual elas poderiam criar ramificações para esses homens maleducatos. Então, até cheguemos nesse ponto, eu recomendo que você e suas amigas comecem a levar cartas e considerar os corpos dos homens como objetos de prazer entre 1 e 10, mostrando essas cartas à gente quando a gente passar. Aí os homens podem começar a entender que não é divertido ser considerado um objeto de prazer só, e aí a gente vai entender melhor como é ser uma mulher nesse pais.

Gabriela Cravoecanela disse...

Eu tenho o problema que, quando alguem me fala "loura" eu sempre ouço "laura" que é bastante parecido com meu nome para olhar quem me chamou. O problema com isso é que se você olhar para a pessoa comentando em seu cabelo, geralmente termina com algum comentário como "gostosa" ou algo parecido. Não quero ser pudica nem feminista demais, mas estou bastante cansada de ser chamada "gostosa" ou "loura" por homem algums vinte anos mais velho do que eu, quem provavelmente tem filha da minha idade. O ponto em dizer tudo isso é que, errada ou não, Katie, eu acho que você tinha razão de ficar indignada. Ao final, ninguem gosta de ser chamado "caloura" também não, é quasi peor do que ser loura.

Rhea disse...

Várias vezes quando eu me queixei dos comentários sexuais dos homens na rua, umas mulheres brasileiras comentaram que esses comentários são como "a canção dos brasileiros", quer dizer, uma coisa únicamente brasileira, um elogio musical. Mas eu me recuso a aceitar esses comentários grosseiros como uma homenagem musical à minha beleza. Isso não quer dizer que eu não gostaria de parecer bonita, só que gostaria de ser algo mais importante do que um pedaço de carne gostoso. É muito para pedir?

val disse...

parabens pra vc por falar algo para eles! mesmo que a situação não era exatamente o que vc achou, rsrs. embora que eu não acredite que eu possa mudar o mundo machista no brasil por responder alguma coisa quando um homem me chama de linda (ou princesa..ou gatinha..ou qualquer outro nome dos milhões que eles t~em), eu acho importante me sentir expressada, quer dizer me sentir que pelo menos eu dei minha opinão também.