quarta-feira, 16 de abril de 2008

O que me incomoda em "Cabeça do brasileiro"

Lemos a introdução ao livro "A cabeça do brasileiro" para nossa aula de Português, e o autor Alberto Carlos Almeida diz muitas coisas com as quais tenho problemas já na primeira página. Ele pretende vincular uma pesquisa recente da população brasileira com o trabalho de Roberto DaMatta em criar generalizações sobre "a cabeça do brasileiro." Mas ele só conseguiu criar pressuposições erradas sobre o que é ser brasileiro.

Ele falou que "é grande a parcela da população que compartilha uma visão do mundo arcaica" mas essa não é uma característica exclusiva do Brasil. Eu sou do Sul dos Estados Unidos, e eu acho que eu sei algo do arcaísmo. Muita gente lá ainda tem muita preconceito contra todos os tipos de diferença, ainda sobrevive na agricultura local, ainda mora isoladamente na floresta, ainda vota pelo partido republicano... parece que Almeida nunca ouviu falar de Eric Rudolph ou de Ku Klux Klan. Esse é arcaísmo verdadeiro. E como Almeida diz que tem dois Brasis, o arcaico e o moderno, também tem dois Estados Unidos. Esse fenômeno acontece em qualquer país que abra os seus braços ao capitalismo moderno, criando um mundo rico e um outro mundo pobre no mesmo lugar.

Mas Almeida esquece quase completamente do papel que o dinheiro representa na mentalidade e "modernidade" duma pessoa. Ele se recusa a discutir a óbvia correlação entre a renda e o nível da educação que um brasileiro tem: quanto mais dinheiro tiver uma família, mais estudos os filhos dessa família vão ter. E é minha opinião que esse fato (ou essa falta) da riqueza vai ter uma influência muito mais forte nas crenças duma pessoa do que a educação. Aqui no Brasil o dinheiro e a educação são tão vinculados numa maneira tão complicada que não se pode esquecer de um ou de outro --eles sempre vão juntos. O "abismo" de que Almeida fala que existe entre brasileiros não depende só dos livros que leram nem dos professores que lhes ensinaram--depende também de em que bairro moraram e de quantos impostos eles tiveram que pagar. O dinheiro determina o acesso pessoal às coisas, aos lugares, às outras pessoas, que também determina acesso a idéias, modelos de comportamento, e práticas que criam valores.

Mas meu maior problema com esse estudo é que a pesquisa social só mostra como os brasileiros falam e não como eles agem. Não tem certeza que os entrevistados façam os papeis que eles criam das palavras deles. Pode ser que essa pesquisa não mostre a verdadeira realidade do Brasil, e pelo menos é obvio que Almeida fracassou em fazer um desenho completo do país dele.

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