Uma rápida pesquisa na Internet para “jeitinho” produz uma quantidade assustadora de 611.000 páginas de resultados. Nem precisa do adjetivo especificador “brasileiro” porque, o artigo da Wikipedia (o primeiro site na lista) nos diz, “(j)eitinho é uma forma de navegação social tipicamente brasileira” (grifo nosso) . E eu fico me perguntando, por que? O que é que o brasileiro tem que o habilita a utilizar “recursos...emocionais e familiares, etc.” para conseguir favores ou exceções às regras (wikipedia.org)? Por que o americano não tem essa capacidade?
Segundo Lourenço Stelio Rega, autor do livro Dando um jeito no jeitinho: Como ser ético sem deixar de ser brasileiro, a necessidade do povo brasileiro de dar um jeito em tudo vem da corrupção do governo nas áreas de segurança pública, fiscalização e outras, que faz com que o cidadão não tenha outra saída, a não ser que seja “dar um jeito”. É a corrupção, então, que dá luz ao jeitinho. Desse ponto de vista, o jeitinho brasileiro é simplesmente a manifestação de inventividade, criatividade, flexibilidade e capacidade de adaptar a uma situação inesperada pelo brasileiro.
Isso não explica, porém, por que não existe um “jeitinho americano”. Não há discussão quanto à existência de corrupção nos Estados Unidos. Há bastantes exemplos infelizmente, como a Guerra no Iraque (a gente ainda não recebeu uma explicação satisfatória por ela), a eleição de George W. Bush pela primeira vez quando milhares de votos de negros na Flórida, sob a jurisdição de Governador Jeb Bush, irmão do Presidente, não foram contados, e muitos mais. De alguma forma, no entanto, essa corrupção é diferente. Talvez seja que a corrupção dos Estados Unidos não chegue a ser uma coisa que afeta a vida da gente diretamente (porém, os sete mil negros na Flórida provavelmente não concordariam com isso). Também pode ter algo a ver com o fato de que o povo dos Estados Unidos não precisa de uma ferramenta de “navegação social” como o jeitinho, já que não tem para onde navegar – a maioria já está na classe média.
Será que a gente não tem do que chorar? Com certeza esse não é o caso, mas talvez a gente não experimente tanta corrupção no dia-a-dia quanto o povo brasileiro. A maioria desse povo é de baixa renda e ainda paga impostos altos, como o já-extinto CPMF, sem ver um resultado porque, aparentemente, o dinheiro está indo não para melhorar a saúde pública e a previdência social como foi proposto, mas para engordar os bolsos dos próprios políticos. Isso não quer dizer, entretanto, que uma boa qualidade de vida é uma desculpa para ignorância. Também não quer dizer que o jeitinho brasileiro é um passo na direção da revolução, pois não se está tentando mudar o status quo, mas se ajeitar numa situação corrupta.
Embora os dois países sofram de corrupção política, eles têm maneiras bem distintas para lidar com ela, nenhuma das quais tenta exterminá-la. Enquanto o americano corta a grama do seu quintal e finge que não sabe do suborno do governo, o brasileiro tenta “dar um jeito” para furar a fila no cartório.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
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Um comentário:
Acho interessante sua discussão sobre a possibilidade de ter "jeitinho americano," ou a inexistência dele. Realmente, eu acho que o jeitinho brasileiro existe nos estados unidos, é só expressado por outra forma: ou é corrupção, ou é um "favor". Não tem lugar cinza entre o preto e o branco, como o brasileiro que cria questão de que corrupção pode ter sido só um favor, ou que um favor pode ser interpretado como corrupcão. Mas, quem pode dizer qual é o modo certo de interpretar as coisas?
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