domingo, 20 de abril de 2008

Uma tempestade durante o almoço

Andando bem devagar, minha mãe brasileira entrou na sala de jantar. Quando ela chegou em frente da cadeira, ela olhou para a esquerda e para a direita. Ela inspirou profundamente, e depois de expirar ela se sentou com cuidado na cadeira. De repente ela olhou para mim e sorriu, e quando eu voltei o sorriso os olhos dela caíram imediatamente ao prato dela. Ela ficou lá por trinta segundos ao menos, pensando em que ela poderia dizer a esse estrangeiro incapaz sentado ao outro lado da mesa. "Tenho que estar preparada," ela deveria estar pensando. "O rapaz não fala bem português, e só tem determinados temas que ele vai entender. Mas eu já falei demais sobre o tempo, a comida baiana, e a mestiçagem das três raças no Brasil." Ela começou a sacudir o garfo na mão. "Eu devo achar um novo tema, eu devo-mais qual é?"

"Ah, Jana, eu queria saber, você já teve que dar um jeitinho, ou você já teve uma experiência com o jeitinho?" eu perguntei.

Logo que eu comecei a falar, ela levantou os olhos com uma cara de surpresa e alívio, e eu vi que ela estava começando a sorrir. "O rapaz está falando direitinho, ele chegou no ponto onde ele pode iniciar uma conversa", o sorriso dela estava dizendo. Ela ficou assim pelo menos dez segundos antes de registrar o que eu tinha perguntado. Quando ela finalmente se deu conta da minha pergunta, seu sorriso evaporou. Nuvens se formaram no teto, e começou a chover no meu prato de peixe."Estamos voltando ao mar, estamos livres!" os peixes estavam gritando enquanto a chuva acumulou na sala de jantar. Naquele momento em que eu quase tinha afogado na incredulidade dela e meu peixe tinha escapado, ela tentou limpar o desordem que eu tinha criado.

"Kyleee, você está tentando dizer o qué?"

"A gente aprendeu sobre o jeitinho brasileiro hoje, e o professor queria que a gente perguntasse a um brasileiro sobre esse conceito."

"Entendi," minha mãe respondeu. Claramente surpreendida que um estrangeiro tenha aprendido esse conceito, e cada vez mais surpreendida que eu mesmo estava tentando entender esse conceito quando eu nem podia falar "cachorro" corretamente.

"Olha, Kyleee, algumas pessoas aqui no Brasil têm que dar um jeitinho por causa do monte de burocracia que existe. Não é algo certo ou errado, é uma coisa necessária. É bem difícil de explicar."

"Você já deu um jeitinho?"

"Não," ela respondeu.

"Você conhece alguém que já deu um jeitinho?"

"Não conheço." E assim terminamos essa conversa. Aquela noite, minha mãe me falou o seguinte: "Você sabe que o homem que dá banho no cachorro se aposentou? Eu vou lhe dar um dinheiro extra para vir aqui e dar banho ao cachorro aqui no banheiro."

3 comentários:

Caley disse...

Hahaha, Kyle. Acho que você capturou aqui perfeitamente o jeitinho brasileiro. Primeiro, a negação da classe media alta que exerce o jeitinho e depois o inevitável exemplo do que o exerce freqüentemente. Gostei muito. Haha.

val disse...

rsrsrsrs kyle, gostei demais. não só da parte do jeitinho, mas da maneira em que voce narrou essa interação entre vc e a sua mãe hospedeira....eu sempre fico assim também, tentando adivinhar o que eles estão pensando de mim quando um momento esquisito chega....
em fim, como caley falou...vc capturou mesmo o jeitinho brasileiro, ou pelo menos como ele aparece nos olhos de um gringo, né?

Julie disse...

Amigo! Você contou essa historia perfeitamente. De vez em quando eu fico pensando se as interações entre eu e minha mãe hospedeira são autênticos ou se ela está agindo para mostrar o que ela acha que eu quero ver numa família brasileira. Ela está dando um jeitinho comigo? Ela acha que só estou vendo Brasil quando estou dentro da casa conversando com ela (a única brasileira que conheço na perspectiva dela)? Mas é engraçado pensar, quando estou conversando com ela, se ela está realmente trabalhando na cabeça, procurando a coisa que ela acha que quero ouvir. Não quero dizer que ela está fazendo isso mesmo, mas de vez em quando, eu sinto um pouco como uma criança.