Eu creio que a vida é lembrada através dos momentos individuais. Como desaparecem as lembranças ruins e só restam as boas durante os meses e anos, a memória demonstra as suas tendências simplificadoras e, enfim, mentirosas. É por isso que eu queria colocar aqui não minhas impressões gerais do Brasil, que vão ficar mais claras com o passar dos anos, mas alguns momentos inesquecíveis: os elos numa série de acontecimentos transitórios que, numerados suficientemente, fazem um semestre inteiro.
O mais recente na minha mente é o final da Liga dos Campeões. Eu estava sentado num barzinho no Porto da Barra, com uns amigos americanos e uma cerveja brasileira. A hora do jogo, que foi contestado na Rússia entre o Manchester United e o Chelsea F. C., coincidiu com o pôr-do-sol baiano, então também assisti a essa outra maravilha pela porta aberta do bar. Embora o Brasil não tivesse nada a ver com o resultado daquele jogo, eu me alegrei que o Manchester United ganhasse, e que John Terry e Cristiano Ronaldo, dois dos meus jogadores mais detestáveis do mundo, perdessem os seus pênaltis.
Quando eu estava começando a aprender português (faz quase dois anos), o primeiro artista brasileiro que eu conheci, além dos “imortais” que costumam ser chamados por um nome só (Chico, Caetano, etc.), foi uma banda pernambucana que se chama Nação Zumbi. Mal entendi o nome da banda, quanto mais a letra, mas Da lama ao caos entrou rapidamente na minha lista imaginária dos melhores discos que eu já tinha ouvido. A mistura do guitarra rock e da percussão tradicional, com um vocalista parecido com Zach de la Rocha da banda americana Rage Against the Machine é irresistível para mim. Vocês podem imaginar que ter assistido um show da banda na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, como eu fiz em maio, mesmo sem o falecido Chico Science, foi uma realização de um sonho enorme.
O último momento para descrever aqui é um momento em fevereiro, antes de chegar a Salvador. Num sábado, eu acordei muito cedo para ir pra praia com alguns amigos em São Paulo, mas ninguém quis acordar, apesar de terem planejado esse passeio comigo a noite anterior. Já bem acordado, eu resolvi andar pelo parque do Ibirapuera, cuja beleza na luz da manhã ainda está comigo. No meio da maior cidade do Brasil, eu parei numa ponte, olhei para os peixes lá em baixo, e respirei fundo, aproveitando o limpo ar matutino.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Cheio de saudade
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