* (Gente, coloquei três blogs agora...desculpe por atraso!)
Naquele momento em que você sabe que você vai ser assaltada, o corpo é imobilizado, completamente imobilizado, a mente está correndo, e você sente que o tempo parou. As manifestações de seus movimentos, decisões, e reações a maioria das vezes, são instintivas, não culturais. Às vezes a situação formada que dá um assaltante a oportunidade de assaltar alguém é construída pela informação cultural daquela pessoa. Às vezes parece que a pessoa não é muito inteligente, mas por outro lado, a informação da cultura dessa pessoa influenciou as suas decisões. Por exemplo, na quinta feira passada, eu fui à ilha de Itaparica com meus amigos, alguns americanos do programa e alguns americanos visitando a gente. A gente chegou à praia com todas as pessoas dos restaurantes e bares perturbando a gente, então seguimos a praia até a parte com menos gente (de verdade, sem ninguém). Depois de alguns minutos todo mundo estava na água menos eu e minha amiga. Estávamos lá na praia batendo o papo quando minha amiga olha na mata atrás da gente e me falou “tem alguém olhando para a gente”. Nesse momento, não teve jeito. Nós duas pensamos “puxa, somos idiotas aqui sozinhas nessa praia deserta com todas as coisas.” Logo no momento em que peguei minha mochila, o homem na mata se levantou e falou “me dá a bolsa,” mostrou uma facão, e pegou a mochila de nosso colega. E foi assim que fui assaltada a primeira vez.
Às vezes me sinto bem acostumada com a vida aqui, minha vida brasileira. Não consigo pensar numa coisa cultural que é chocante para mim, mas depois me lembro que não é uma coisa, é um estilo de vida que é chocante e ao qual é difícil de se acostumar. Para mim a parte da vida brasileira ou a vida de Salvador mais difícil de entender e me acostumar é a possibilidade de perigo que sempre presente.
A coisa chocante não é só o fato de que essa cidade é perigosa, a coisa chocante é que pessoas nunca se acostumam com a realidade de perigo e vivem a vida carregando essa preocupação. Minha mãe me falou outro dia que ela sempre tem que passar numa rua no caminho para casa em que ela já viu várias vezes meninos da rua brigando entre si com pedaços de madeira. Ela falou que ela “morre de medo cada vez”. Como pode viver assim, morrendo de medo cada dia da vida? Ela também me contou várias historias de pessoas sendo assaltadas na frente de nosso prédio. Uma vez alguém levou uma mochila, outra vez, um carro, outra vez os tênis dum rapaz andando na rua. Como uma pessoa agüenta a possibilidade de ser assaltada cada dia?
domingo, 1 de junho de 2008
Cultura de Paranóia *
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2 comentários:
julie- a mesma coisa me aconteceu na praia quando estava na praia de Itapua quando o meu irmao veio me visitar em Salvador. Sendo sortuda (rsrs), eu apertei minha bolsa o momento antes do ladrao e ele desistiu depois de tentar me robar. Mas, isso aconteceu no primeiro dia da visita do meu irmao, e pelo resto do tempo que ele passou aqui no Brasil, ficou com tanto medo de TUDO. eu gostei muito quando voce escreveu sobre a necesidade de se acostumar ao perigro e nao viver em medo dele - eu tentei ensinar isso pro meu irmao - que eu moro aqui e a possibilidade de perigro nao modifica o jeito de eu viver minha vida cotidiana - mas infelizmente, acho que ele ficou assustado a visita toda.
O perigo "claro e presente" (ra ra...) é um fenômeno interessante num país das exagerações. Embora o brasileiro "típico" tenha opiniões fortes sobre todo assunto, eu percebi uma atitude bem "calma" e até complacente diante do crime. Minha mãe hospedeira, por exemplo, perdeu o seu marido num assalto e mais recentemente foi seqüestrada no carro dela, mas ainda fala sobre o crime como um problema social abstrato. Mesmo tendo sofrido tanto, ela insiste que não tenha jeito de consertar o perigo constante do Salvador. Para mim, é difícil entender as suas reações, mas se acostumar aqui deve ser um negócio difícil, para estrangeiro e também para brasileiro, quando corre tantos riscos.
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