domingo, 1 de junho de 2008

e as mulheres?

Estudo numa faculdade de mulheres lá nos EUA (acho que já falei isso). Não escolhi estudar lá para uma razão especifica e nem estava pensando em estudar numa faculdade de mulheres, mas desde entrando na Mount Holyoke, senti que lá é como qualquer outra faculdade pequena, até senti normal que não tem homem lá. Depois alguns meses na minha faculdade, uma pessoa se acostume. A falta de homens não passa na mente e o ambiente da faculdade como “uma comunidade de mulheres diversas” começa a representar a visão do mundo. Em três anos estudando lá, comecei perceber e questionar alguma coisa durante as férias da faculdade: Onde são as mulheres (ou quero dizer, onde são as lésbicas)?! Voltando a minha cidade para as férias de verão eu não senti nada irregular com um mundo cheio de homens, não percebo que faltam homens na faculdade, mas não me surpreende quando homens reentram no mundo fora da faculdade. O que percebo como estranho é que no mundo "normal", não tem lésbicas! Agora, alguém vai me perguntar, “Julie, como você sabe que não tem lésbicas? Você está perguntando cada mulher se ela é lésbica?” Bem, talvez o mundo a fora também seja cheia de lésbicas, mas não como a faculdade. No “mundo real” percebo que não existem tantas mulheres que se vestem um pouco mais ambígua ou até como um homem. Mas nos momentos raros em que uma lésbica me passa na rua, eu penso primeiro, “que saudades desse povo”, e segundo, “onde é o resto das mulheres”?

Como minha mãe escreveu para mim uma vez (quando ela estava tentando demonstrar que ela não era tão ocupada com minha sexualidade), “a faculdade é para aprender idéias novas e decidir se você aceita ou rejeitar essas idéias”. Quero dizer que o ambiente de lésbicas não é a única razão que minha visão do mundo mudou. Também na faculdade aprendi (aprendemos, acho que temas de sexualidade são uma parte do currículo de cada estudante na Mount Holyoke ainda se não escolhessemos esse tema) uma visão da sexualidade que não é em termos de branco e preto, hetero e homo. Essa visão de um espectro ou uma fluidez era contrario da visão que aprendi na igreja católica e na cultura rural e conservador de minha cidade.

Numa aula aqui, uma professora convidada veio falar sobre mulheres no Brasil. Entre alguns estudantes, discutimos a falta de um movimento lésbica. Comentamos que já vimos e ouvimos, pelo menos um pouco sobre a situação dos homens gays, do movimento gay, mas tudo em termos de homem. Por que o mundo não parece ter espaço pela lésbica? Por quantos personagens de homens gay na televisão e filme são quantos personagens lésbicas? Acho que é obvio que minha visão do mundo é um pouco fora do “normal”, mas ainda acho que minha pergunta é valida. Nas duas culturas do Brasil e os EUA sempre parecem ter um espaço (ainda se seja pequeno) maior para os homens gays do que as lésbicas? Por que? E de novo, vou perguntar, “Salvador, onde estão as mulheres?” (mas, por favor, não me responde, no Beco dos artistas. Estou perguntando em geral!)

2 comentários:

Rhea disse...

Julie,
Eu também tenho me perguntado a mesma coisa recentemente. Eu também percebi essa falta de lésbicas em Salvador, não somente na presença delas, mas também de uma diálogo aberto sobre o tema. E você, sem dúvida, tem razão em relação à falta de lésbicas na mídia ambos nos EUA e no Brasil. Até São Francisco, uma cidade conhecida pela tolerância, o enfoque do progresso parece ser nos homens gays, e não tanto nas lésbicas. Na maior parte das vezes, os personagens gays na televisão representam os estereótipos simples e bobos dos homens gays, e não para ser levados a sério, mas as lésbicas nem sequer têm isso!

Kyle disse...

Julie,
Realmente, onde estão? Eu tenho procurado em todo lugar já que eu também sinto falta delas. Há algumas pessoas que ainda não sabem isso, mas eu também assisto uma faculdade de só mulheres. Lá, o mundo já é outro, não é? Eu adoro passear pelo campus de Barnard College, onde a metade das mulheres quer me matar e a outra metade quer dormir comigo. Falando em saudades, eu realmente sinto falta desses sentimentos aqui no Brasil. Acho que a gente sabe a paixão unica que esse meio ambiente cria, e é uma pena que a gente não tenha encontrado esse mundo aqui!