domingo, 1 de junho de 2008

"Você é o que você come"

Talvez no Brasil, essa expressão não seja comum, mas é verdade, né? Um dia eu parei e tive um insight, “Eu voltei ao Brasil só para comer mais frutas e beber mais suco!” Depois de alguns minutos pensando nisso, pensei, “Esse motivo para voltar é suficiente para mim,” e continuei com minha vida. Não acho que estou enganada que comida é uma coisa muito importante na identidade dos brasileiros (ou do mundo). O outro dia estava conversando com um colega meu e ele me perguntou primeiro, “Você está aqui há quanto tempo?” e depois, “Você já experimentou as frutas?”

Também na área de intercâmbio cultural, percebi que a comida é um dos temas mais discutidos. Quando não tenho nada para escrever a minhas irmãs, minha irmã Lizzie escreve, “Julie, escreva qualquer coisa, mas mais de qualquer coisa quero saber o que você está comendo!” Um amiga da faculdade me pediu que lhe enviasse um e-mail,, mas não sei onde começar. Ela respondeu assim, “Vou escrever perguntas e você vai respondendo. Pergunta 1: Você comeu o que na café de manhã? Pergunta 2: Você comeu o que no almoço...” Então, agora eu tenho o costume de escrever emails assim:

“Acordei tarde (como sempre), tomei banho, e tomei café. Lá, sempre tomava café rápido, mas aqui, porque não tenho nada muito importante para fazer, demoro com a comida gostosa. Primeiro, comi uma maçã, depois uma laranja, uns pedaços de mamão, e duma manga. Ooooo o outro dia minha mãe comprou pinha!!!!! Hummm, também comi uma banana (que comi com manteiga de amendoim...algumas coisas não gosto de viver sem). Depois, comi pão com queijo e presunto, que esquentei no forno. Terminei com suco de maracujá.”

Os emails, de vez em quando, explicam alguma coisa sobre minhas aulas ou meus amigos, mas sempre volto ao tema mais importante:

“A gente estava andando pela orla, eu ia para casa, mas Kyle falou alguma coisa sobre tapioca e acabamos na esquina com Beijo dos Artistas (não estrelas). Comemos Caetano Veloso (queijo, coco, e manteiga com orégano se lembra de pedir) e Carlinhos Brown (queijo, brigadeiro e coco). A gente viu ele num show e o dia seguinte comemos ele! Depois estava com sede então fomos para Açaí da Barra (onde o suco é mais barato, mais gostoso, e as moças são mais amáveis) no lado de Suco 24 horas. Nossa amiga Tainá falou, “Vocês sabiam que na próxima vez podemos pegar a tapioca e trazer para o Suco?” Que idéia maravilhosa! Depois a moça de Açaí falou, “Vocês sabem que pode pedir a tapioca e os moços trazem para cá?” Sabia não!”

No ultimo email, pensei que não estava escrevendo sobre comida...mas estava:

“A gente (todo mundo sabe que a gente quer dizer, eu, o Kyle, e a Karin) estava na casa de Kyle olhando as fotos de nossos amigos até 3 horas de manhã. Eu e a Karin começamos ir para casa, mas antes disso tivemos que decidir o plano para o dia seguinte, então feijoada foi discutida. No momento, Kyle parou, olhou para a gente, e falou, “Feijoada 24 horas, vamos nessa?!” A gente, “Vamos!” No elevador descendo Karin comentou, “Brasil é perfeito né, você nunca tem que se preocupar com o tempo, sempre faz calor e não tem que trazer casaco ou nada.” Começamos andando para Barra (idéia brilhante dos gringos). No meio do caminho, no lado do Hospital Portuguesa, começou a chover, forte. Escondidos no lado duma banca de jornal, esperamos a chuva passar. Quarenta e cinco minutos se passaram...e a chuva não. Comentei varias vezes, “O que estamos fazendo aqui!” Finalmente decidimos ir andando na chuva. Passamos Shopping Barra mas o B e a A estavam piscando e a placa ficou assim: Shopping rra Shopping Barra Shopping rra. Kyle estava dirigindo um carro imaginário. Chegamos no restaurante de feijoada 24 horas (completamente doidos) e pedimos a feijoada para 2 pessoas que dá para 10. Comemos feijoada para o café da manhã porque já eram 5 horas de manhã. Fui para casa a pé, na chuva. Dormi. Acordei às 12, comi de novo.”

Talvez minha identidade relacionado à comida não foi tão forte antes de conhecer Kyle e ler os emails de minha irmã Lizzie, que só conta o que ela ou qualquer pessoa comeu, mas comida faz parte do dia-a-dia. Se é parte de todo dia tem que ser uma coisa especial. Sempre lembro quando o dia não é perfeito e sinto que quero ir para casa (a casa lá nos EUA), paro e lembro que em casa não tem acarajé.

Um comentário:

Rhea disse...

Julie, você nem pode imaginar... para mim, o café da manhã é vida. Eu sonho com o café da manhã. Eu sempre adorei a quantidade de fruta presente nos cafés da manhã aqui. Também sempre admirei a quantidade de atenção e costumes na hora de uma refeição aqui no Brasil. Alias, se eu não me interesse tanto pela lingüística, acho que seria uma cozinheira, especializando-me nos cafés da manhã....