Kalvero Oberg foi um antropólogo do século XX, mais conhecido pela identificação das fases de “choque cultural.” Mas, que é o choque cultural? Nascendo num país, você é criado com hábitos e opiniões que você realmente nem percebe. Quando chegar num outro país, a pessoa começa a descobrir que nem todo o mundo foi criado com os mesmos hábitos, comidas, costumes, estações, vocabulário, etc. Oberg identificou cinco fases deste processo de descobrimento, os quais o estudante de intercâmbio geralmente vive sem saber o “porquê” dos sentimentos que passam pela cabeça dela.
As fases:
Primeira fase: “the honeymoon phase” o a “fase de lua de mel”- Chegando no aeroporto em Salvador, eu sabia que Brasil ia ser o lugar perfeito para mim. Nunca esquecerei a viagem no táxi do aeroporto até Ondina, onde passaríamos os primeiros dias. Tudo era diferente, tropical, lindo, e nada poderia ter aparecido feio, sujo, ou bagunçado. Sabíamos que o motorista de táxi ia tentar cobrar a mais, já nós avisaram disso antes de chegar no país, então não íamos pagar nem a mais nem a menos do que deve ser. Sabíamos que o Brasil “é muito perigoso” e que não seria “boa idéia” sair do hotel as primeiras noites. Sabíamos que a família que nos adotou ia ser perfeita também. O local era lindo, duas irmãs, um pai, uma mãe, algo que nunca vivei na minha vida: uma família completa, um apartamento grande, chique, no centro duma cidade. Tinha empregada, mas ela parecia muito feliz, quase uma parte da família, ainda que não almoçasse com a gente e ficasse de pé servindo até a hora de ela almoçar na cozinha, sozinha. Mas isso era “normal” no Brasil, já me disseram que ia ser assim. Tudo ia ser perfeito.
Segunda fase: “Rejection” ou “Rejeição”- Os ônibus nesta cidade são impossíveis de aprender a usar. Minha mãe brasileira me falou que tinha que pegar ônibus na Reitoria da UFBA para chegar à minha aula em Ondina, mas ela só anda de carro e não sabe nada de ônibus, a família inteira anda de carro. Eu esperei no ponto, e com o melhor português que eu pude falar, perguntei mil e poucas vezes,
-você passa na Ufiba?
-onde??????
-Ufiba?
-ONDE?
-ufiba.
- AHHHHHHH, UFBA, não, você tem que esperar no outro ponto.
Fui ao outro ponto, e o processo continuou, cada motorista falou “outro ponto”. Começou a chover (chegamos aqui no “inverno”- o que significa somente uma coisa em Salvador: chuva). Molhada, frustrada, e chegando no mesmo ponto onde comecei quase uma hora antes, peguei Vilas do Atlântico, e cheguei ao campus cinco minutos depois.
Ainda tenho dias aqui como aquele, e só posso falar uma coisa, que “este dia não vai funcionar.”
Terceira fase: “Regression” ou “Regressão”- Chegando em casa depois do fiasco com o ônibus, não sabia o que fazer. Não tinha muitos amigos, não deu para sair. A família ficava nos quartos deles, e eu não queria invadir a privacidade de ninguém. Ligue a televisão e achei o MTV Brasil, e “Punk´d” estava passando naquela hora, em inglês com legendas em português, as quais eu podia ignorar. Foi quinta-feira, e dia que a família comia Mcdonald em casa, uma tradição que eu nunca cheguei a entender. Minha irmã brasileira passou no meu quarto só para deixar o hambúrguer e voltou para o quarto dela. Ai eu fiquei no quarto, comendo Mcdonald e assistindo “Punk´d” em inglês, confundida porque eu estava estudando exatamente no Brasil.
Quarta fase: “Recovery” ou “Recuperação”- Eu não gosto de Mcdonald, realmente nunca o como nos Estados Unidos, e prefiro muito mais ao acarajé. Não moro mais com aquela família, e adoro a carioca que me adotou este semestre, a qual prefere andar pela casa só de calçinha, que figura! Adoro os dias que “não funcionam,” porque eu sei que estou em Salvador quando passo um dia maluco procurando um banco que não tem fila enorme, ou uma aula que ao final foi cancelada, ou um ônibus que me levaria ao local errado, ou quando saio de casa só com quatro reis e pego ônibus errado e quando chego ao Iguatemi, chego a descobrir que não posso tirar dinheiro com o cartão porque foi bloqueado pois os números foram roubados, e não tenho mais dinheiro para pegar ônibus. Aí, eu ligo para minha amiga para me buscar.
Tem dias aqui que eu nunca esquecerei, nem mudaria para nada.
Quinta fase: “Reverse Culture Shock” ou “Choque cultural ao voltar”- O Brasil me ensinou muito sobre a minha própria cultura. Morar num outro país é quase como viver com um espelho sempre colocado na frente da sua cara; você pode ajustar como você se comporta, mas sempre será diferente. A coisa é que já me acostumei como funcionar nesta sociedade, nesta língua, nesta roupa, com este dinheiro, comendo esta comida. Aprendi a beijar duas vezes na cara quando conhecer alguém, a entrar no ônibus na porta de trás e descer na da frente, a não tocar a comida com as mãos nem comer enquanto andar pela rua, e vai ser difícil voltar a tudo que eu conhecia antes do Brasil. Mas isto é assunto para o próximo blog: “de quê eu vou ter saudades”.
3 comentários:
Lauren, é como se você estivesse contando a história da minha vida aqui em Salvador!
Eu soube que tinha aprendido a amar essa cidade o dia que não tive a vontade de chorar quando peguei o ônibus errado e fui pra estação Mussurunga em vez de Vitória...
Nem consigo imaginar a minha vida ao voltar pra "lá", já parece apenas um sonho...
São muitas vezes que eu também me sinto como esteja passando pelas cinco fases num dia só! Acho que cada um da nossa turma pode se relacionar com as suas experiências, sendo tão típicas e tão irritantes! Tenho que repetir o que Katie falou no seu comentário. Morando no Brasil e falando com os brasileiros (que não "voltam pra casa" depois de 6 meses ou um ano), América começa de parecer um sonho, e se torna supreendentemente fácil pra gente, depois de tanto tempo, adotar a perspetiva brasileira sobre a nossa própria pátria...
Eu concordo completamente, vai ser tão estranho voltar nos Estados Unidos. Há varias coisas lá que vão ser completamente diferente para mim. A maneira de comer, de brincar, de cozinhar, de se relacionar com a familia e os amigos--tudo tem um novo sentido agora. Acho que isso tem a ver com o choque cultural ao voltar. Agora, tudo que era "natural" lá vai ser visto diferente por causa da experiência da gente aqui, seja com um novo entendimento, repugnância ou apreciação.
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