sexta-feira, 25 de abril de 2008

Jeitinho Brasileiro

Eu juro que não sabia. Ele só me falou que se eu chegasse aquele dia que podia me ajudar. Deixa me explicar. Faz quatro anos que um sisto apareceu nas minhas costas. Não sabendo o que era, eu pensava que ia desaparecer eventualmente. Só que, sistos não desaparecem, ficam, e de vez em quando eles incham. Aqui no Brasil foi a quarta vez que meu sisto ficou inchado. Acontece que eu estava morando com um médico e a família dele. Quando viu o sisto inchado, o médico me falou que ele podia, até, removê-lo quando tivesse diminuído em tamanho. Eu odeio cirurgia, e nunca insisti com ele sobre o assunto depois. Mudei-me da casa dele e pensava que nunca mais ia ouvir sobre aquela cirurgia. Voltei para casa só para almoçar um dia, e me falou,

-Se você chegar na hora de almoço quarta-feira que vem, a gente pode tirar este
sisto para você.
Só isso.

Cheguei na casa quarta-feira, e a gente saiu para o hospital. Eu não levei dinheiro, nem documentos, realmente, não estou certa se tenho um plano médico este semestre. Então suponho que eu sabia algo da idéia do jeitinho, mas não foi até que eu vi a fila de pessoas esperando fora da porta dele que eu me dei conta do que estava fazendo. Todo mundo me olhava passar, esperando que o meu problema não ia demorar, porque imagino que eles já esperavam todo o dia para fazer uma cirurgia que ia demorar meia hora. Realmente, eu me odiaria se eu fosse um deles naquele momento. Eu reclamaria que não era justo, que o Brasil tinha que mudar e parar de categorizar ações como jeitinho e se dar conta que era corrupção mesmo. Mas eu não falei. Porque eu estava recebendo. E vi as coisas de um outro ângulo. Recebi uma cirurgia de graça, que seria muito cara nos Estados Unidos, e entendi por que uma pessoa usaria o jeitinho.

Perguntando a brasileiros conhecidos, eu achei que a palavra “jeitinho” tem muitos significados; de “gato de luz” até furar fila, de falsificação de documentos até conserto dum aparelho com cola quando é preciso. Tinha dois exemplos que eu gostei muito: o primeiro era verdadeiro, e o segunda era um desses “eu ouvi falar, mas juro que é a verdade...”

No primeiro, o tio era caminhoneiro que, em vez de ficar enrolado em postos de controle, ele colocou cinqüenta reais no meio dos documentos. O policial, coincidentemente, deixou ele passar, e o que ele gasta nos pontos, ele ganha com tempo.

A outra história foi sobre um caminhoneiro que foi parado pela polícia por causa da placa que estava coberta de lama. Querendo multar, o policial deu chance para o caminhoneiro oferecer algum jeitinho. O caminhoneiro falou
- uma cerveja ou refrigerante limparia isto
O policial pensou do jeitinho oferecido e respondeu,
- mas, claro!
O caminhoneiro pegou uma cerveja e, despejou-la na placa, ora, limpando a placa...
Usando jeitinho para lutar contra o jeitinho, neh?

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