Há alguns dias que um professor da UFBA, o Dr. Antonio Natalino Manta Dantas, chegou às manchetes dos jornais por zombar do instrumento musical baiano bem conhecido, o berimbau. O professor, branco e velho, disse:
"O berimbau é o tipo de instrumento para o indivíduo que tem poucos neurônios. Ele tem uma corda só e não precisa de muitas combinações musicais”.
Esse comentário vergonhoso, entre outros, foi dito durante uma entrevista com o professor sobre os resultados ruins dos estudantes baianos em duas provas, o Enade e o IDD, que foram administradas aos estudantes universitários de âmbito nacional para averiguar o desempenho deles. Ele também achou prudente rejeitar a música do Olodum como “barulho” e sugeriu que a imigração européia e asiática seriam muito melhores para o país do que a tal imigração que fez da Bahia o que é hoje em dia. O reitor da UFBA condenou as declarações como “racistas e ignorantes” imediatamente, assim como todo repórter na TV, e nos dias seguintes nos programas de notícias houve muitas visitas às academias de capoeira para afirmar a valorização cultural do querido berimbau.
Há muito errado no que o professor falou, mas posso falar melhor sobre o conteúdo musical. A lógica do professor parece uma comparação entre duas coisas, usando um padrão que injustamente favoreça um em relação ao outro. Neste caso, o senhor sugere que, primeiro, a música do berimbau seja simples demais e, segundo, que a música “simples” vala menos do que a música mais complexa. Este ponto de vista convenientemente supõe que existam algumas regras para reger toda a música no mundo, que sejam o padrão de toda música. O “bom senso” do professor, que sugere que o que importa na música seja a complexidade dela, revela os seus próprios preconceitos que, tomados no contexto dos comentários sobre a imigração, favorecem a cultura européia em relação à própria cultura brasileira.
A música clássica européia se distingue da música “primitiva”, é claro, tanto pela complexidade dela como pelo acúmulo de regras que pretendem reger toda música. Como toda regra que exista por bastante tempo, estas se tornaram “leis”, como se o percurso de tempo lhes desse ainda mais poder. A realidade é que tal que parece “barulho” para um pode soar como música para um outro, e toda música tem suas próprias “regras”, que definem o “estético”. A música clássica é apenas uma voz entre muitas, com regras que não são universais nem absolutas. Por que o berimbau tem uma corda só? Sei lá. Será que um violino é, com quatro cordas, mais difícil de aprender tocar? E um violão, outro instrumento essencial à música baiana, ainda mais difícil tocar com seis cordas?
O que diria nosso professor?
“Professor atribui baixa nota do Enade ao "QI dos baianos"
http://gloria.reis.blog.uol.com.br/
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2 comentários:
Playing the violin is hard but playing six strings is harder. That professor should just enjoy the music. Good call Drake.
Estou aprendendo jogar capoeira enquanto estou na Bahia, e tenho que dizer que a única tentativa minha para tocar o berimbau foi um desastre. Eu já toquei piano por muitos anos, e posso tocar pelo menos algumas três canções no violão, então porque um instrumento que parece tão básico seria tão difícil? Lembro claramente um parte da produção do Balé Folclórico montado no Pelourinho em que um dos músicos da banda de música típica baiana pegou um berimbau e criou toda uma orquestra com uma corda só! Este sim é talento. E gostaria ver o professor tocar o berimbau assim, se pudesse.
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