segunda-feira, 26 de maio de 2008

O Banho de Pipoca em Negro e Branco

Eu saio da minha casa às seis da manhã. Eu venho pensando que a vida começa muito mais cedo aqui no Brasil. Eu inspiro pela primeira vez quando eu alcanço a árvore na esquina da minha rua, e imagino como seria acordar lá embaixo dessa madeira elegante e régia. Eu não expiro até que eu chegar em frente do homem vestido de azul que varre a calçada todo dia, com movimentos curtos mas poderosos e experientes. Acho que ele sente minha expiração mas ele não olha para mim. Eu paro por um minutinho para observar os braços dele movimentando pelo espaço, criando uma sensação de tranqüilidade nos meus pés e joelhos.
Depois de caminhar 25 minutos, eu chego na igreja de São Lázaro. São às sete da manhã. Eu tenho sentido muito cansado, mas quando eu vejo os baianos e as baianas vestidos de branco, roxo e amarelo eu inspiro uma energia nova. Há uma mulher ao lado direito vestida com saia rosa e uma camisa branca. Ela está em pé esperando a próxima pessoa entrar na igreja. Enquanto ela espera, ela sacode uma xícara na mão. Finalmente, um homem chega na frente dela. Ela deixa de sacudir a xícara e ela olha para ele. As mãos dela movem para cima e para baixo, inscrevendo um perfil dos ombros e dos braços dele. Ela abraça o homem e o homem avança e entra a igreja.
Há mais duas mulheres na entrada, vestidas com vestidos brancos. A mulher mais magra está fumando e olhando para a rua. Eu quero entrar na igreja mas eu ainda estou com medo. Eu espero até que mais uma pessoa chegue. A próxima pessoa que vem é um homem que pára na frente da mulher mais magra. Ela sente a cabeça dele, e deixa a mão lá em cima da cabeça dele alguns segundos. Depois, ela faz a mesma coisa, desta vez com as mãos fechadas na cabeça dele. Ela pega um galho de uma árvore e começa a esfregar na pele dele. Ela esfrega todo o corpo dele com um vigor impressionante. As mãos finalmente descansam nos ombros dele, e ela pega pipoca. Ela joga a pipoca sobre a cabeça dele e depois sobre os ombros. Eles se abraçam, ele entra na igreja.
Eu tenho que entrar. Já é tarde. Eu expiro, eu ando na direção de um homem vestido com camisa e calça roxa. Ele cheira muito bem, como o ultimo trago de água de coco do coco mesmo. A gente se olha. Ele é muito amável e ele quer muito bem a mim. Eu sinto a mesma coisa, eu quero muito bem a ele. Ele toca minha cabeça, ele escova meu corpo. Ele joga pipoca sobre minha cabeça e meus ombros. Eu inspiro e ele pergunta:
“Dá um real para mim?”

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