terça-feira, 27 de maio de 2008

Racismo cabeludo

A mãe do meu amigo tem muito orgulho do cabelo dela. Ela quase não tem cabelos grisalhos, ainda que ela vá fazer cinqüenta anos no Abril que vem. Ela tem um corte bonito e jovem, e, mais importante que tudo, o cabelo dela é liso. Ela faz questão de chamar atenção a esse fato também porque, como ela diz, “Eu sou a cor de café, mas meu cabelo é lisinho” e passa a mão pelo cabelo.
Não se enganem, se não fosse pelos vários produtos de alisamento que ela usa e pelas duas horas por semana que ela passa secando e fazendo escova no cabelo, ele não seria liso. Não sei exatamente como pareceria. Eu nunca a vi com o cabelo desarrumado, nem uma foto dela com cabelo cacheado, e ela não fala de como é seu cabelo naturalmente. O importante é que esteja liso agora.
Essa obsessão pelo cabelo não parece incomum. Nas novelas, todas as personagens têm cabelo comprido, liso, brilhante, e já ouvi mais que uma vez alguém chamando seu cabelo crespo e cacheado de “cabelo ruim”. Esse é um padrão de beleza bem rígido, especialmente para uma região onde a grande maioria das pessoas tem cabelo cacheado. O racismo conseguiu chegar até o padrão de beleza, fazendo com que a imagem de beleza para uma mulher seja uma branca com cabelo liso, e preferencialmente loira.
Não é de se admirar. Quando você leva em consideração o fato de que a maior parte da classe média—a classe média alta é branca, ou pelo menos não-negra, e por alguma razão, o dinheiro sempre tem sido vinculado com a beleza, até faz sentido de uma maneira incômoda. Talvez se você se parecer com “gente bonita”, você também será.
Fazer sentido, no entanto, não justifica que essa forma de racismo bem manifesta seja tão aceita pela sociedade. A mãe do meu amigo já é uma pessoa bem-sucedida, fez duas faculdades, é muito inteligente, tem emprego bem remunerado, tem a sua saúde, e é sempre tomada como a irmã do meu amigo e não como a mãe dele. Mesmo assim, ela segue esse padrão ridículo de que o único jeito de ser bonito é de ter cabelo liso. O padrão pode mudar, mas precisa de pessoas que percebam a maluquice e que queiram mudá-la.

Um comentário:

Kyle disse...

Katie,
Há um grupo na minha faculdade que reune para conversar sobre assuntos que tem algo a ver com racismo, sexualidade, e outros temas parecidos. Um dia, uma estudante negra estava falando sobre o assunto de cabelo e que as amigas dela crticam ela quando ela faz com que o cabelo esteja mais liso. De repente, uma outra estudante negra levantou e gritou "E eles deveriam. Cada vez que você faz do cabelo mais liso, você está dizendo algo. Quando você vai para uma entrevista com cabelo liso, você está dizendo algo. Pensa nisso!" A sala ficou queita um minuto muito longo. Seu blog me fez pensar nisso. Acho que existe essa mesma questão lá também!