quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sempre uma turista

Ontem eu fui para a casa do meu namorado pela primeira vez. Eu já tinha conhecido a mãe e as irmãs dele numa chá de fraldas, mas elas ainda me dão medo. Quero que elas gostem de mim, então eu passei mais do que uma hora me arrumando antes de sair: me vesti com as minhas calças preferidas e uma blusa colorida, e em vez de usar Havianas, eu usei minhas novas sandálias chiques. Ele mora longe demais de mim, em São Rafael-- qüase uma outra cidade!-- e quando cheguei lá, eu estava toda suada. Pior ainda, quando entrei no apartamento dele, todo mundo estava de bermuda e descalço. Meu Deus no céu, eu nunca me visto adequadamente para um evento aqui! A noite anterior eu tinha ido para uma chá de cozinha de calça jeans e Havianas!

Então, a partir do momento em que eu cheguei, me senti burra, e nada que aconteceu depois melhorou isso. A gente sentava no sofá assistindo umDVD de Daniela Mercury e falando do Carnaval, quando meu namorado me olhou e disse "Não fique insultada, mas só têm turistas gordos e chatos no bloco do Chiclete." Eu não fiquei insultada, mas fiquei surpresa: ele me acha uma turista? E depois disso eu fiz o papel de tradutor para entreter a irmã mais velha dele, repetindo todos os nomes da família em inglês para que ela risse das pronunciações americanas. Quando eu falei alguma coisa que ela não entendeu, ela pediu ajuda ao meu namorado, como se eu fosse uma criança com deficiência auditiva. Eu tenho certeza que ela não queria ser antipática ou desagradável, mas eu ainda me senti estúpida demais quando eu sai de lá. Meu namorado viu que eu estava quieta e me perguntou o que foi que estava pensando, mas eu não consegui responder.

No ônibus voltando para casa, quando eu tentava descobrir porque estava triste e calada, eu dei conta de que eu sou uma turista de verdade. Ainda que eu já tenha passado quatro meses aqui em Salvador, ainda que fizesse mais do que um mês que eu saio com meu namorado, eu sou uma turista na terra dele. Nunca vou conseguir entender tudo que ele fala, nunca vou conhecer todas as músicas famosas da Bahia, nunca vou falar sem sotaque americana. E no fim das contas, eu vou voltar para meu país e meu namorado vai ficar aqui. Ele nunca vai conhecer meus pais e minha irmã, nunca vai sair comigo para um show de Brother Ali, nunca vai jantar na minha casa com meus amigos, nunca vai andar de bicicleta quando está nevando, nunca vai estudar na biblioteca até quatro da manhã... tudo isso é minha vida lá que ele nunca vai entender. É tão diferente da realidade dele aqui, e quando eu penso nisso, já me sinto distante dele, mesmo que ele esteja vindo para minha casa agora. Graças a Deus que ainda tenho um mês em Salvador para continuar evitando minha existência turística!

2 comentários:

Gabriela Cravoecanela disse...

Sempre ser uma turista aqui é uma coisa muito difícil de combater. Realmente, acho que chega a um ponto que tem que desistir combatendo-a e começar a coexistir com ela. E nesta coexistência, eu me dei conta duma coisa outro dia. Se eu me coloco num lugar onde a turista freqüente, Pelourinho, por exemplo, eu vou ser tratada como turista. Não tem jeito de escapar se não for mudar a cor da minha pele. O que é interessante é que se me colocar num lugar onde turista NUNCA aparece, tipo, algum lado de Brotas, todo mundo me trata como se eu tivesse lugar neste local, como se eu fizesse parte da comunidade, mesmo sendo estrangeira. O fato que você foi para a casa dele significa muito. Foi um passo na direção correta, como dizemos em inglês. Você não é mais brasileira pelo fato, mas atravessou num lugar onde gringa nunca passou, e este é muito importante.

val disse...

caitlin, eu entendo perfeitamente exato o que vc falou sobre a experiencia de sentir distante do seu namorado mesmo que ele está ao seu lado...que coisa estranho demais tentar fazer com que uma relacao inter-cultural e lingual dé certo...será que duas pessoas de mundos diferentes realmente podem se conhecer e se entender bastante para manter um amor de verdade?