terça-feira, 13 de maio de 2008

Tudo cinza

Para começar, eu quero que todo mundo saiba que esse blog não é nada concreto ou bem-definido--é mais algo em que tenho pensado porque ainda há muitas coisas do Brasil que eu não entendo. Eu escrevi esse blog pensando nas possíveis críticas que vou receber, e que eu quero receber. Queria criar um pouco de controvérsia com esse blog para ver as respostas, para ver se alguém sabe por que a corrupção,o atraso nas aulas e a traição acontecem com tanta freqüência aqui. Não quer dizer que essas coisas não acontecem nos EUA, nem queria falar duma posição de superioridade sobre essa questão, e por isso eu vou falar um pouco sobre meus próprios atos irresponsáveis. Como eu estou aqui em Salvador, eu sou uma participante ativa da vida brasileira, então eu sou tão culpada quanto as outras pessoas de agir sem respeito às regras aqui. Mas basta dessa introdução ao assunto, e vamos ao que interessa:

Recentemente, alguns escândalos aconteceram na esfera pública do Brasil, como a traição de Ronaldo com as prostitutas e a viagem européia da sogra de Cid Gomes. Mas também aconteceram alguns pequenos escândalos na minha vida pessoal na semana passada, como o dia em que faltei uma aula para beber uma cerveja com um amigo, ou quando eu esqueci de fazer uma tarefa para a aula de Português, ou quando ouvi falar dum rapaz (que tem uma namorada de seis anos) que fica com uma menina diferente cada semana.

E depois de todos esses escândalos, ninguém vai para a cadeia, ninguém fracassa na aula, e ninguém perde a namorada--porque não têm um sistema rígido de conseqüências aqui no Brasil. Com certeza existem conseqüências em alguns casos: os pais de Isabella provavelmente vão para a prisão, o personagem de Guilherme na novela "Beleza Pura" perdeu o emprego depois do acidente de helicóptero, e eu peguei uma infecção no dedo com uma manicure ruim. Mas tem uma séria falta de rigidez na aplicação das regras e da lei nesse país. Não existe um sistema de castigos que seja aplicado com igualdade e rigidez a todos os que fazem coisas erradas. Então, às vezes parece que todo mundo tem a liberdade de trair os namorados e chegar atrasado às aulas e roubar um pouco de dinheiro do povo ou do governo. A corrupção é tão comum que ainda mesmo os funcionários dos postos de saúde têm que roubar instrumentos médicos e dinheiro para que o posto fique funcionando, e muitos dos brasileiros jovens que eu conheço podem ser chamados safados pela maneira em que eles brincam com as namoradas.

O jogo (falando metaforicamente) do governo, da aula, e do namoro não tem regras claras-- tudo parece cinza. Então, cadê o preto e o branco de certo e errado nesse jogo? Como fala o conhecido soterpolitano Caetano Veloso no poema “Americanos,”
Para os americanos branco é branco, preto é preto...
Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo
Nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça
Entre o monstruoso e o sublime...
Americanos sentem que algo se perdeu
Algo se quebrou, está se quebrando.

2 comentários:

val disse...

adorei sua coragem de falar sobre as coisas que todo mundo está pensando! também gostei que vc incluiu a letra do caetano, ele sempre diz e clarifica muito pelas poucas palavras dele. na verdade, quando eu penso no que eu vou dizer pra minha família e meus amigos quando eu voltar pros EUA, quando eles me pergunatarem sobre minha experiencia com o povo brasileiro...nao sei o que vou dizer pq ainda nao tenho feito conclusões sobre nada!!

Rhea disse...

Eu sempre desejei colocar as diferenças culturais dos países e dos povos que eu conheço em categorias específicas, porque para mim, poder ter categorias bem clarificadas faz a vida mais fácil. Eu sinto que entendo o mundo ao meu redor melhor e que tudo é mais compreensível. Isso deve ser um defeito meu, porque o fato de que há tanto cor de cinza nas classifições me deixa bem frustrada. Para mim, e acho que para mais muitas pessoas, é uma grande tentação julgar e identificar a superioridade e inferioridade do que eu observo, mas eu tento resistir. Por isso eu admiro a sua tentativa de manter a mente aberta e flexível.